sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Por Welton Esquizopoeta - ANTES UM PALHAÇO A UM POETA




Eis o proscênio à sua espera. Palco reticente, cínico. Tribuna de poucos parvos que se lançam como inventores, como deuses a rabiscarem novas constelações, a cuspirem novos rearranjos. Todavia se enganam, já que nada são, senão IDIOTAS de uma corte que em salvas os elevam em sua estupidez, em sua pertinaz toleima. Cenário que de suas feridas expele pus e escárnio para o poeta que à distância espreita o picadeiro que clama por um palhaço, por um clown de versos prazerosos e espirituosos.
Eis a cena que se faz pronta: Vozes que clamam pela escatologia de suas palavras, pelo corpo poético pecaminoso e purulento, pela sandice de seus meneios sonoros e pelas cutucadas na seriedade de estelas que se desmancham a cada saracoteio de sua boca.
Eis imóvel e indiferente a todos, com o seu cigarro aos lábios babados pelo tédio e pelas mesmices de afetações de cadáveres previsíveis. Toma a tragos largos sua birita vagabunda e cortinas de tabaco ralo se esvoaçam ao vazio abarrotado de palavras e sujeitos marrentos e virulentos. Suas pernas dormentes, arrebatadas ao abismo infindo, insone, tragadas em via de cristalização de seu pandemônio renitente, sua poiesis que adormece, sua potência esquizo que se esquiva diante do ambiente mórbido que o estreita em censura crescente.
Eis seu silêncio. “Antes um palhaço a um poeta?!” Titubeia como folha seca sem vida a bailar em molejos rígidos e ritmados pelo vento seco e insensível que a move, que lhe insinua discursos e coragem.
Eis o bobo que se revigora, que se ergue como artesão do riso, como meretriz que se abre em gargalhadas, pois a platéia exige o seu palhaço, o artífice de pilhérias e macaquices. Então acenda seu cigarro, clown ordinário! Recite sua poética, sua fabrica de chacotas!
Eis um palhaço, eis um clown, pois antes um parvo a sensibilidade íntima de um indecifrável artista.

Um comentário:

  1. Sempre tive essa sensação de ser apenas um comediante, um bobo da corte. Só porque falo de putas, prostíbulos, de matérias escatológicas? Estou cansado dessa situação bizarra e tosca. O clown se retira definitivamente, ao passo que o poeta não subirá mais ao palco. Permanecerá em sua escrivaninha sob papéis solitários onde chilreiam seus ímpetos e intesindades.

    ResponderExcluir