De José
Eduardo A.Felix com revisão De Torresmo.
A
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ugusto chega às pressas depois do estágio, passa pela sala às
pressas, ouve um barulho da pia ligada na cozinha e logo imagina que é a mãe
preparando o almoço. Para não parecer “muito mal criado”, resolve anunciar a
sua chegada com um sonoro:
- Oi mãe, cheguei! Vou tomar banho e desço logo para almoçar
com você!
- Filho passa aqui na cozinha antes, temos visita!
Então, Augusto logo pensa que finalmente a mãe voltou a
aceitar visitas em casa, algo que não ocorria desde o divorcio dos pais.
Octavio, pai de augusto, tinha terminado o casamento de 25 anos pouco depois do
filho começar a faculdade e ir morar em uma republica para estudantes em Jardim
da Penha. Quando o rapaz entrou na cozinha, não esperava que a amiga da mãe fosse
uma velha conhecida (era Natali, uma estudante de direito com quem ele tinha
namorado durante quase um semestre, tinham rompido há algum tempo), era a última
pessoa que esperava ver tomando café com a mãe.
- Mãe, o que é que
ela esta fazendo aqui?
- Filho eu estava vindo do supermercado e encontrei a Natali
no meio do caminho, ela estava passeando de bicicleta e parou para me ajudar
com as compras.
- Dona Édina, não foi nada afinal, a senhora sempre foi uma
ótima sogra!
- Pois é, ela foi , assim como você foi minha namorada e
agora você deveria ir e dizer um sonoro “Fui”, isso antes de bater a porta na
saída.
Para o leitor que não esta entendendo muito bem, é
necessário explicar melhor os fatos do presente voltando alguns meses, quando
os pais de Augusto ainda eram casados e ele ainda era um calouro de direito.
Durante toda a infância, ele e Camila (sua irmã mais velha) eram a razão da
vida de Octavio e Édina (um casal de classe media, ele era advogado e ela era dona de casa). Era conhecida como um modelo de família
ideal pelos vizinhos e amigos, digna de um comercial de margarina, mas as
aparências enganam, um nem sentia mais tesão pelo outro e o
relacionamento conjugal, que há tempos não era o mesmo, começou a cair quando a
Camila terminou a faculdade de enfermagem e foi trabalhar em outra cidade, indo
morar em um apartamento quilômetros distantes
dali. Não demorou muito o caçula foi morar fora depois de começar o
curso de direito. Aliás, foi nesta
faculdade que Augusto conheceu Natali, ambos tinham passado ao mesmo tempo no vestibular,
conversavam muito e começaram a ficar no meio do segundo semestre a algum tempo
depois começaram a namorar. Apesar de terem praticamente a mesma idade, Natali
praticamente adotou o garoto:
Ela o levou para conhecer várias pessoas e festas, ajudava-o
nos estudos como uma professora, quando iam ao shopping ela ficava encarregada
de contrabandear levar lanches para os dois terem uma comida mais
saudável, sendo ela responsável pela diminuição do consumo de carne do rapaz
durante a semana. Quando finalmente chega a hora de apresentar a namorada para
aos pais, nada não poderia ter sido melhor:
- Pai, mãe, essa é a Natali, e Natali, esses são Octavio e
Édina, meus pais.
- Seja bem vinda minha filha, nossa como você é linda.
- Obrigada, a senhora também é.
Depois de muitos cumprimentos, jantaram e a mãe mostrou à
nora as fotos do filho enquanto isso o pai o chama para a varanda e onde tem
uma conversa:
- Então pai, gostou da Nati, ela não era exatamente como eu
te falei?
- Augusto, ela é sim muito simpática, bonita e te digo mais
ela lembra muito a sua mãe quando ela era jovem, a semelhança chega ser
assombrosa, você realmente ama mesmo esta garota?
- Que pergunta pai, claro que amo! Ela é demais, não entendo
o porquê da sua pergunta.
- Então me deixe ser mais claro: você notou que eu e a sua
mãe não nos damos tão bem como antes e tudo tem piorado desde que você e a sua
irmã saíram de casa, digo isso porque você já tem idade para saber destas
coisas. Não me leva a mau, mas sua mãe é uma ótima mulher, para cuidar dos
filhos, mas parece que não ser mais a melhor esposa para mim, consegue
entender?
- Eu não estou entendendo, o que o senhor está querendo me
dizer? Aonde você quer chegar?
- Quero-te dizer que é melhor que não tenha um relacionamento
mais sério com essa garota, ou acabara tendo uma ótima mãe para seus filhos,
mas não um boa companheira na cama para outras coisas. Para o seu bem,
espero que isso seja apenas uma aventura amorosa.
- Mas pai, eu acho que o senhor deve estar enganado, mesmo
que a Natali lembre a mamãe, o que te garante que ela não será uma boa esposa?
- Filho, você ainda é novo e não tem certeza do que quer
realmente para toda a sua vida, eu tenho total convicção do que estou falando.
E te digo mais, você lembra há mim
quando tinha a sua idade: um sonhador, apaixonado e talvez por isso que casei
com a sua mãe tão cedo quando mal tinha acabado a graduação. Mas deixemos isso
de lado por enquanto, afinal, eu gostaria de saber sobre o estagio que estou
reservando para você, lá no escritório.
Enquanto isso, no quarto de Édina, onde sogra e nora estão
vendo as fotos do álbum de família no computador:
- Nossa o Augusto sempre foi tão lindo desde pequeno, nunca
imaginei que ele fosse loiro quando criança.
- Isso porque você não conheceu a irmã dele, até hoje ela
tem essa cor de cabelo, ela só não veio hoje por estar trabalhando.
- Me falaram que ela é enfermeira, trabalha aonde?
-Acabou de ser contratada para trabalhar num hospital
particular, e está agora fazendo uma pós-graduação, vocês vão se dar muito bem
quando se conhecerem. Mas me conta como foi que você conseguiu fazer o meu
filho comer menos carne e mais comida saudável?
- No inicio foi difícil, mas com incentivo libidinal com
o incentivo adequado, fica mais fácil!
-Sabe que eu o convencia a comer mais salada prometendo em
troca mais sobremesa e funcionava muito bem, mas tive que parar com isso ou ele
poderia ficar com problema de peso. E por isso gostaria que você cuida-se bem
do meu bebê, ele ainda é muito relaxado com a alimentação: gosta de comer
besteira na rua, gosta de ir ao
Macdonalds...
- No que depender de mim ele vai ter uma alimentação tão
saudável que vai parecer que ele namora uma nutricionista.
E no dia seguinte, depois da aula o Augusto encontra um
amigo dos tempos de vestibular, era Jorge (que agora estava fazendo o curso de
filosofia), os dois foram para um bar onde depois de alguns drinques ele desabafou:
- Olha, é muito bom te ver cara, eu tava precisando de
alguém para conversar.
- Tudo bem, mas qual é o problema? Dinheiro eu sei que não é,
então ou é saúde ou é mulher?
Então ele conta com detalhes a conversa que teve com o pai,
mas foi de uma maneira tão minuciosa que
faria inveja a qualquer estagiário de pesquisa cientifica. Então o amigo opinou:
- Olha, eu uma vez fiquei com uma garota da psicologia, uma
pessoa até legal, a única coisa que entendi quando ela falava de psicanálise era o lance do Édipo. Se não me
engano o lance que seu pai falou é o seguinte: “Você tende a procurar uma
mulher que é parecida ou igual a sua mãe, seu pai não quer você fique com
alguém que é igual a sua mãe. Logo, seria como você casa-se com a sua mãe”
entendeu?
Neste momento o rapaz, depois de ouvir a explicação a la
psicanálise de botequim bem leiga do
amigo, ele fica em silencio por tortuosos dez segundos e replica com um ar de humor e descrença:
- Ah!, para de brincadeira, Jorge!
-Não, não to brincando não, é serio, quando mais você negar,
mais evidente fica!
-Ah!,porra nenhuma de jeito nenhum, eu não posso
acreditar nisso, afinal a minha namorada não lembra nada a minha mãe!
- Pensa bem, seu pai não tirou isso do nada...
- Tá supondo que eu acredite nisso, não anularia tal teoria?
- Não, eu te digo que o primeiro passo para se chegar à
solução é admitir o problema, e ai? Vai admitir?
-Quer saber de uma coisa, vamos voltar a beber e falar de
futebol, você como um terapeuta é um bom bebedor...
(...)
Naquela noite Augusto não conseguiu dormir tranquilamente,
não deixava de pensar no que Jorge tinha falado sobre o complexo de Édipo,
chegando ao ponto de ter terríveis pesadelos envolvendo..., bem, deixemos isso
a cargo da imaginação do leitor. No tempo que ficava acordado pensava : “será
que isso é verdade ou só estou levando muito a serio
Na manhã seguinte, o estudante chegou a minutos antes de
começar a aula (isso depois de beber um café expresso bem reforçado na
cantina) alguns que estavam presentes
olharam preocupados para o colega exausto, logo ele, tão tranquilo e que nunca chegava atrasado...
qual foi a catástrofe que possibilitou tal acontecimento?
Durante a aula vários pensamentos lhe ocorriam:
- Puta merda, não to conseguindo prestar atenção
nesta aula, mas eu mal me aguento acordado! Não sei o porquê da minha conversa
com o Jorge estar me assombrando tanto, será que a Nati é mesmo parecida com a
minha mãe ou estou apenas impressionado com uma teoria mal explicada? Tá certo que o Jorge é estudante de filosofia
e não fez nenhum curso de psicanálise, mas se ele sacar pelo menos a base da
teoria? , não, não posso deixar esta ideia me dominar, vou ficar numa boa,
tenho que ver pelo lado bom: mesmo se
minha namorada lembrar mesmo a minha mãe... , pera ai, se eu for semelhante ao
meu pai é sinal de que no futuro eu me casarei e eu e a minha esposa seremos um
casal perfeito, assim como meus pais são (um casal feliz com vinte e cinco anos
de matrimonio, felizes até o final da vida), não tem como nada dar errado!
E olhando para Natali na mesa ao lado ele acena com um sorriso
bem satisfeito, pensando em um futuro ter uma vida feliz ao lado da mulher que
ama, assim como seu pai. Um futuro perfeito e com um apartamento onde passaria
os últimos dias da vida sem nunca divorciar-se.
Em uma bela tarde ele resolve visitar os pais, ele é
recebido pela mãe:
- Guto, como você está?!
-Ei mãe, como estão as coisas, resolvi dar uma passadinha
aqui...
- Mas justo com essa camisa xadrez? Eu já disse que isso
parece uma toalha de piquenique, alias cadê aquele doce de pessoa da Natali?
- Pô mãe!,não gosto quando a senhora implica com as minhas
roupas, isso ta na moda. A Nati teve que fazer um trabalho na casa de uma
amiga, mas acabou de me ligar...
Segundos depois a campainha toca, era a Nati, que
cumprimentou a sogra e o namorado e logo fez o seguinte comentário:
- Pô amor, achei que
você tinha jogado fora essa camisa.
-Não gostou?
-Tá brincando, isso parece uma toalha de piquenique!
Então Augusto começou a pensar, se talvez não fosse uma
simples coincidência?
- O seu Octavio não esta em casa?
- Não, ele esta viajando, vai haver uma audiência no
interior do estado, vamos fazer um lanche, quero saber as novidades, o Octavio
comprou queijo e presunto antes de sair.
Durante o lanche da tarde o rapaz sentia-se fiscalizado,
tanto pela mãe quanto pela namorada, ele mal podia comer sem ser censurado,
parecia mais um curso de etiqueta à mesa. Mas ele também era paparicado pelas
duas, sempre perguntavam se ele queria mais leite, se o sanduíche estava bom...,
ele foi tratado como um verdadeiro príncipe, com direito até a limparem a boca
dele com guardanapo.
Na noite seguinte Augusto conta a Jorge as semelhanças entre
a mãe e a namorada, alem de relatar a preocupação que isso lhe causava. O amigo
colocou a mão no queixo, respirou fundo e tentou acalma-lo:
- Cara, eu acho que
você levou muito a serio o que eu falei, eu estava bêbado, alias, nós dois
estávamos. Por outro lado você deve pensar bem no que vai fazer, essa sua
garota parece ser ideal para você...
-Eu gosto dela, mas está ficando estranho, você ficaria
espantado como é namorar alguém que lembra a sua mãe, só de pensar é bizarro!
- Eu não devia ter comentado sobre uma teoria que não
domino, agora olha para você: Está delirando, não dorme...
- A culpa é sua! Se não tivesse me aberto os olhos, se eu
não tivesse ouvido, ainda estaria feliz curtindo a minha ignorância!
- Calma me deixa tentar te absolver desta culpa: A dona
Édina é sua mãe, certo?!
-Sim, mas o que você quer dizer com o óbvio?
-Calma você tá nervoso, vou explicar melhor, ou pelo menos
tentar. Eu só queria te dizer a seguinte coisa: Você teve como primeiro modelo
de mulher ideal a sua mãe, o que de certa forma levaria você a escolher uma
mulher com as características da sua mãe. Entendeu?
- Então eu acho que entendi!
- Até que enfim, eu já estava ficando preocupado, estava achando
que os artigos da Wikipédia que eu li não estavam ajudando. Mas diga se tudo esta
ficando mais tranquilo agora.
- Tá ficando, quer dizer que eu busco uma mulher com as
características semelhantes da minha mãe, por ela ser meu primeiro modelo de
mulher ideal, não é isso?
- É por ai, na verdade eu devo te dizer que você tem uma
atração por sua mãe, lembra que você me contou que costumava dormir na cama dos
seus pais quando tinha pesadelos e pedir para dona Édina te abraçar, isso você
deveria ter uns cinco anos de idade. Então em um belo dia seu pai te barrou na
porta do quarto de casal e te deu um esporro te chamou a atenção e te
disse as celebres palavras...
- Como eu poderia esquecer, lembro até hoje:
“A mãe é sua, mas a mulher é minha. E ai?!, vai encarar?”
- Espera aí você acabou de me dizer que esse negócio de
complexo de Édipo significa que gostei da minha mãe, mas meu pai meio que me
“cortou as asas”?
- Na verdade acho que aí estamos falando mais é de castração.
- O que, meu pai quer me castrar? Meu próprio pai quer me
capar?
-Não cara, deixa isso pra lá, o que quero dizer é que como
não poderia ter acesso à mãe por ser a mulher de seu pai, você buscou ter ele
como um modelo de homem ideal e...
- Meu pai como um modelo de homem ideal? Você esta me
estranhando, não quero nenhum homem para mim!, Ideal ou não.
- Para de pensar besteira que vou agora te livrar de toda a
preocupação. Não me interrompa.
- Tá então fala logo caralho
criatura!
- Mais uma vez calma, você esta nervoso, agora entenda. Quando
falei modelo de homem ideal, eu quis dizer que: é o tipo de homem ideal que
você gostaria de se tornar, entendeu?
- Ata, agora entendi, mas então isso explicaria o porquê da
minha escolha pela faculdade de direito..., mas continue explicando.
- Então você resolve seguir o exemplo do seu pai, e sendo
tão bom quanto ele, você poderia conseguir uma mulher tão maravilhosa quanto a
dele, fui claro?
- Acho que, entendi tudo faz sentido agora, e sei o que devo
fazer!
- O que você vai fazer?
- Antes de tudo ficar feliz por meus pais estarem casados,
pois assim não corre risco de eu tentar competir novamente pelo amor de minha
mãe como na infância!
- Como é que é?
- Sim, e para fugir de vez desta teoria eu devo tomar uma
medida o mais rápido possível. Jorge, muito obrigado eu já vou indo, da próxima
vez eu é que pago a rodada, fui!
Então Gustavo parte com um olhar próprio de quem vai fazer
uma grande besteira, deixando o amigo pensando: “Será que ele realmente
entendeu o que eu quis dizer?”
Mais tarde ele vai até o apartamento da namorada que o
esperava usando uma blusa laranja com o desenho do deus hindu Ganesha[1]. Ele
pergunta se ela esta sozinha e ela responde dizendo que as outras garotas que dividem o
aluguel voltaram para os lares no interior do estado, visto que passou o
período de provas finais.
- E ai Guto, veio me fazer uma vizita ou veio me chamar para
sair?
- Na verdade vim para agente conversar sobre um assunto
delicado, posso entrar?
- Claro, mas qual é o assunto ?
- É difícil de explicar, eu fico confuso...
Neste momento a garota percebe a fragilidade do rapaz e o
aconchega junto ao peito, igualzinho a mãe dele fazia quando era pequeno.
-Então vem cá, fica calmo e me fala: o que tá te deixando
tão confuso, alguém te fez alguma coisa?
- Não Nati! Para!, Deixa eu falar , é justamente sobre isto que
eu queria falar!
- Não estou entendendo, dá para você me explicar?
-Acho que não devemos mais..., acho que tá ficando
complicado para mim ficar contigo...
- Para mim não, é para eu!
- Tá vendo isso, você tá parecendo minha mãe!
Então ele tenta buscar justificativas nas teorias explicadas
pelo amigo da filosofia, mas ele acaba de se enrolar e os dois acabam caindo
nos clássicos jargões: você não me dá espaço suficiente, não gosto da maneira
que você se veste, etc...
Por fim, ele sai correndo do local entra no ônibus e vai
para casa. No caminho ele reflete sobre tudo que aconteceu e conclui que foi
melhor assim, seria melhor não se relacionar com pessoas semelhantes a qualquer
parente, principalmente de primeiro grau. Resolve encontrar os pais em casa
para falar do final do namoro, mas para a sua surpresa o seu telefone toca e é
o número do celular do pai, chamando-o em casa para uma reunião de emergência.
O que ele não poderia adivinhar é que os pais estavam para anunciar o fim do
casamento. Eles justificaram a decisão dizendo
que o casamento era mantido pelos
filhos, mas como todos já tinham saído de casa, não viam mais razão para
viverem juntos, pois o amor um pelo outro havia acabado faz tempo e já não eram
mais um casal, mas apenas pai e mãe.
- Filho, nós já conversamos com a sua irmã antes por ela já
estar sabendo de tudo há muito tempo, e esperamos que você compreenda. Aliás,
gostaríamos que você começasse logo o estágio no escritório do seu pai, achamos
que isso vai te ajudar a amadurecer e seria bom ter mais responsabilidades,
afinal: “Você a partir de agora será o homem da casa”.
Ao ouvir estas ultimas palavras: “ a partir de agora você será
o homem da casa”!
Ele começou a imaginar como seria a sua vida daqui para
frente, sem o pai para ser o esposo da mãe, agora é como se Laio estivesse
morto e deixou o caminho para o filho se encontrar com a mãe e assumir o trono
do palácio. Mas ele se considerava diferente de Édipo, pois neste caso ele
teria total consciência do que estaria fazendo, portanto nada poderia
interferir no plano de frustrar a teoria Freudiana (pelo menos assim ele
pensava). Mas sem namorada, e com o semestre acabando, não lhe restava muita
coisa a não ser apoiar a mãe neste momento e estagiar o máximo possível,
conseguir tocar a vida na certeza de não ser tapeado pelo destino, afinal de
contas, ele ainda contava com a ajuda do amigo Jorge. Então quando acabou de
ouvir que ele teria que deixar a republica estudantil e começar a estagiar, ele
simplesmente respondeu com um discreto “tá bom, tudo bem”, mas foi um tudo bem
no estilo “puta que pariu, vocês são brincadeira, eu faço de tudo para
levar a minha vida numa boa: tento tirar as melhores notas, venho visitar você
sempre que posso, até trago a minha namorada para todo mundo conhecer, não
reclamo de nada e é assim que vocês me agradecem ? fudendo acabando com
o meu esquema? Custava continuarem casados até eu me casar?”.
Depois disto o tempo passou, como se as horas virassem minutos
e os minutos, segundos. Augusto, agora estagiário de direito mal para em casa,
às vezes tem que viajar com o pai e com o sócio do escritório, tal de Príapo.
Já não tinha mais notícias de Natali e se preocupava com a mãe, pois ela não
recebia mais visitas em casa, não saia e achavam até que estava com depressão.
E em uma destas vezes que voltou de viagem ele passou primeiro no escritório
onde deixou as petições e foi correndo direto
para casa para almoçar e descansar. Justamente nesta ocasião ele se surpreende
vendo a antiga namorada conversando com a mãe. Depois de avaliar a situação e
ver que o destino ou qualquer outra entidade estaria tramando um plano de uma
tragédia grega. Augusto pensa: “o Édipo ta tentando me pegar, mas eu não vou
deixar, não importa o que custe eu vou fugir!”.
Augusto tenta manter a calma, mas sem deixar de lado a indignação
com a ex-namorada, e por causa deste ato de grosseria leva um esporro da mãe leva uma bronca de sua genitora:
- Não admito que você trate esta menina deste jeito, só
porque vocês terminaram isso não te dá o direito de tratá-la com tanta
grosseria, além do mais ela é minha convidada, e alias não é a única!
- Mas mãe, não é certo você convidar a ex do filho para vir na
sua casa, onde estão os bons e velhos costumes?
- A única coisa velha aqui é a sua maneira de tratar as
mulheres, por acaso te criei para ser um troglodita ou um bárbaro qualquer?
- Édina, não precisa me defender, ele deve ter tido uma
viagem difícil...
- Como assim “Édina” o que houve com o “dona Édina” desde
quando vocês estão tão íntimas assim?
- Desde que você ficou estagiando e não parando em casa, até
agora não sei o que você faz que não para em casa e me deixa sozinha em casa,
por acaso tem vergonha de ficar em casa com sua mãe?
- Não, já conversei sobre isto, eu gosto de sair com os
amigos e fazer uns serviços extras para o sócio do meu pai, ele tem um clube e
me escolheu para cuidar da documentação.
“Sim, ele cuidava da documentação, e aproveitava para
interagir” com as funcionarias do estabelecimento, salvo exceções. Este clube
era nada mais nada menos do que um lugar de muito divertimento para artistas,
atletas bem sucedidos e pessoas da alta sociedade. Um lugar proibido para
menores de dezoito anos, com pequenas exceções.
Depois dos ânimos se acalmarem, logo chegaram a um acordo,
não demorou muito a campainha (que tinha um som um tanto diferente do que
Augusto se lembrava) toca, esta foi a oportunidade de atender a porta e sair
daquela atmosfera carregada. Para sua surpresa quem está na entrada da casa é
seu amigo da filosofia.
- Jorge, bom te ver cara , eu tava precisando de alguém para
me ajudar, sabe a minha ex namorada ? , ela tá aí, então você poderia me dar
uma força?
- Olha Guto, acho que como sempre você está sendo muito
impulsivo e não procura avaliar a situação com cuidado.
- Como assim? Você não veio fazer uma vizita ao seu brother?
- Cara, eu vim aqui como convidado da sua mãe, ela me chamou
para almoçar.
- Desde quando você frequenta a minha casa sem ser convidado
por mim?
- Olha a sua mãe ligou pra mim porque estava preocupada com
você. Por causa da sua dedicação exagerada ao estágio e a sua disposição às
viagens do escritório. Guto você não para em casa nem para descansar, parece que
esta fugindo de alguma coisa, aliás parece que você anda fugindo de tudo. Então
vim aqui umas vezes para conversar com ela.
- Eu, Fugindo? Você deve estar filosofando demais, eu não
fujo de nada, eu só estou amadurecendo, quero ser uma pessoa independente como
meu pai e coisa e tal.
- É mesmo? Então porque você aceitou voltar para casa e deixar
a república estudantil logo que seus pais se divorciaram e te ofereceram um
estágio? Por acaso aceitar os destinos que os outros escolhem para você não é a
mesma coisa de ser passivo e dependente? Porque você nunca aceitou estagiar
antes?
-Eu acho que você andou fumando alguma coisa a caminho
daqui, eu não faço a mínima ideia do que você está falando!
Édina vai ver o porquê da demora do filho e quando vê o
amigo do filho abre um sorriso, dá um abraço caloroso e um beijo na face dele
como se fosse o filho prodigo.
- Jorginho que bom você vir, gostei do som da nova campainha
que você instalou,depois do almoço você poderia consertar a estante da
biblioteca? Você é o anjo que pedi a Deus!
- Espera ai! Como assim consertar a estante da biblioteca,
não era eu que ia fazer isto na minha folga?
- Você estagiando e fazendo serviços por fora, concertando
alguma coisa? Se eu fosse esperar por você a calha da varanda estaria ainda
entupida e cheia de larvas do mosquito da dengue e quem você acha que pintou a
varanda?
- Quer dizer que o Jorge anda fazendo serviços aqui e não me
falou nada?
- Meu caro eu tentei avisar que eu ia à sua casa, mas sempre
você não atendia as minhas ligações, não é por causa daquele assunto da psicanálise,
não é?
- Não fale deste assunto na minha casa, principalmente na
frente da minha mãe!
- Relaxa Guto, eu já sei de tudo, não existem segredos entre
mim e o Jorginho. Mas não posso acreditar que você, um estudante de direito não
teve a curiosidade de ler outra coisa que não seja o Vade-mécum[i] e a
legislação brasileira.
- E ela não é a única com quem compartilho o que sei, também
tem a Nati!
- Não me diga que vocês também se conhecem, eu nunca te
apresentei a ela?
- Não, mas a Édina apresentou-me semana passada quando
limpei o seu computador e nos damos muito bem, aliás você deveria atualizar o
antivírus e evitar certos sites, isso evitaria grande partes de seus problemas.
- Mas você tá pegando ela? Ou o que?
- “Pegar”?! Francamente, achei que você fosse mais
cavalheiro. Como que você foi terminar com uma pessoa tão adorável?
-Bem chega de conversa vamos que a Nati já acabou de por a
mesa. Jorge não se esqueça de...
- Lavar as mãos, pode deixar não precisa pedir duas vezes!
-Guto você vem depois, não é? Afinal você ia tomar banho
ainda.
E todos se prepararam para comer, o estagiário de direito
recebe uma ligação do pai pedindo para ele descansar bastante, pois haveria um
audiência da guarda de uma criança de 12 anos no dia seguinte. Aproveitando o
momento, Guto pergunta ao pai:
“O senhor se orgulha de mim?”
Então o pai responde com pressa e rispidamente:
“Mas é claro que sim, afinal, você é o melhor estagiário que
temos, nunca tínhamos alguém que aceitasse viajar e fazer hora extra até nos
feriados, nem mesmo eu quando tinha a sua idade era tão entregue ao trabalho. Mas
eu não era mais entregue porque estava namorando a sua mãe, agora vou desligar,
pois tenho que ir almoçar. Até mais!”
Então depois de tomar banho, Augusto estava descendo as
escadas e viu aquela cena:
A mãe, a ex-namorada e o amigo almoçando, fazendo o lembrar
de momentos nostálgicos de quando a família se reunia todo domingo para almoçar
depois da igreja. Mas agora ele não conseguiu ver um lugar para ele à mesa, nem
mesmo a namorada ele tinha, a mãe não fez o prato dele como era de costume, ele
sentia falta até mesmo das tarefas de casa realizadas no final de semana, como
limpar o gramado, concertar as coisas da casa...
Tudo que era dele, tudo do qual ele havia fugido por medo de
comprovar uma teoria mal compreendida por ele agora era de Jorge, seu único
amigo. Seu pai o respeitava como um funcionário mas será que o respeitava como
filho?
Mas a pergunta mais importante seria:
“será que havia lugar para ele fora do trabalho?”