quarta-feira, 24 de outubro de 2012

MANIFESTO ESQUIZOPOÉTICO



MANIFESTO ESQUIZOPOÉTICO

A homoafetividade se alastra pelos corpos, pelas vestias, pelos tecidos que transpiram afetos! Existir é pandemônio incessante! Olhem! Meninos que curtem meninos e meninas que curtem meninas e vice-versa. Amor, carinho, num toque, num olhar... Tanto quanto os maluquinhos, as psicoses - o que desagrega, sim, faz bem, reinventa a vida! Logo o escarro expansivo, imoral se faz persistir ante as cifras de classificação – detalhe, a vida categorizada, matematizada, números que engedram subjetividades – Pulverizem o numero, o discurso dialético do cientificismo! Toda essa babaquice pseudoacadêmica. A vida se faz, se refaz. Vida - espaço onde circulam singularidades, vadias, escorregadias, gozadas pela porra que cria - elementos que se cruzam e se beijam em orgasmo esplendido!
Valor de certos discursos, validação de certas perspectivas que se fazem mais certas, imbuídas por uma vontade de domínio.  É necessário olhos escrupulosos, imorais, Muito Escárnio na ponta da língua! Reitero! Singularidades oprimidas, constrangidas, onde estão? Procuremos ou façamos que apareçam! O constrangimento é algo que adoece...
                                          
O QUE É NECESSÁRIO ENTÃO?

O rompimento com as dicotomias ou com os lugares bem postos, bem instituídos, deslocamentos produtores de angustia e de indignação. Naturalizados pelo tempo, na verdade, pelos mecanismos discursivos discretos midiáticos, e os seus arautos da verdade que conduzem muito bem sua retórica, em sofismas bem articulados se empenham a defender a verdade da vida, os bons costumes. Avaliar isso criticamente é avaliar os elementos que constituem todo esse saber sobre determinado objeto, fenômeno histórico que constitui subjetividades, corpos assujeitados pelas falas de especialistas, os especialismo do padre, o especialimo do medico, do psicanalista, enunciações como modelos de uma representação de certa medida da existência que deve ser defendida com unhas e dentes. Avaliar é tirar a poeira que cobre a mobília velha que se conserva nos pensamentos, nos olhares, nos gestos, nos músculos emperdenidos; toda uma couraça moral que paraliza a vida dos outros e de si mesmo. Mais do que valores morais, é possível entender o que pode ser possível com valores que afirmam a vida? Um ética que afirma a existência de particularidades, uma ética que vê o próprio sujeito como sujeito singular mergulhado numa multiplicidade de caras, de taras, de corpos. É um exercício filha da puta, mas sei que vale a pena tentar. Cada tentativa, cada mergulho, é uma aproximar-se mais, um contato com um recorte do entorno, mas há tantos e tantos ainda por vir! Talvez por reconhece-los, seja um sinal de saúde, de autosuperação do corpo. Este atravessado por varias medidas, bombardeado por varias mordidas que tentam abocanha-lo! Resta alguns caminhos, ou será mordido e devorado, lançado aos lobos do lucro e perecerá em sua fragilidade deprimente perante tudo, ou como rocha flexível virá a ser elementos que desconhece e que descobre a cada instante por pertinácia renitente, por vontade de viver, de respirar, de mastigar, de fuder e gozar, lançar porra mesmo numa tentativa de experimentação. Ou seja, entendemos a vida como uma ESQUIZOPOESIA. Uma existência que se faz como corte e recorte de vários ângulos que surgem de dimensões inesperdas. Um estética absurda e inaudita da indiferenciação da matéria que se perde constantemente, sem formas, apenas processos, apenas zonas que se aproximam, que se avizinham. O caos numa cosmologia torpemente atraente! Convoco todos a experimentarem a vida num exercício esquizopoético!


quinta-feira, 19 de julho de 2012

Renascimento

Falo com as estrelas, pois lá estão nossos antepassados. Não temo a morte, mas sim uma vida mal vivida. Minha mãe teve uma morte suave, digna de um anjo. O Grande e Eterno Céu Azul irá ouvir meu pranto. Ela descansará e depois cruzará terras céus e mares. Verá tudo que não viu nessa vida. Verá tudo que viveu em várias outras. As palavras dela finalmente surgiram no Céu noturno. Uma forte estrela em meio à escuridão: “Todo velejador deve saber: nenhuma tempestade dura para sempre. Quando o vento está forte demais, solte as velas e sente-se ao fundo do barco.”. Nasci para o Mar. Tenho espírito de Tubarão. Sei bem o que isso significa. “Ka mate, ka mate; Ka ora! Ka mate, ka mate; Ka ora!”. Eu morro, eu morrerei, eu vivo! É a Morte, É a Morte; É VIDA! O Sagrado Ciclo, assim como o Sol nasce, o Sol também se põe. O Eterno Retorno. Do Caos à Ordem, da Ordem ao Caos. O Ohm, que a tudo unifica e a tudo divide. Mas a cada novo ciclo, as fagulhas que retornam ao Grande Sol, deixam para trás pequenos fragmentos. E levam consigo outros. Há vida na morte. A Morte é o sentido da vida. Poucos compreendem a beleza que há nisso. Eu compreendo. “Ka mate, ka mate; Ka ora! Ka mate, ka mate; Ka ora!”. Eu morro, eu morrerei, eu vivo! É a Morte, É a Morte; É VIDA!

*Minha mãe faleceu a 16 de Agosto de 2010. Ela faria 63 anos hoje, 18 de Julho de 2012. Data marco da revolução francesa.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

A Queda da Bastilha


A apatia. Apatia e o raciocínio limpo. Ou talvez não. Só apatia. Poderia esmagar o crânio de um atendente da Vivo, Oi ou qualquer outra empresa de telefonia que FHC privatizou e jogou nas mãos da Telefonica. Enquanto você fica puto com uma em detrimento a outra, eles lucram com promoções falsas que só promovem a engorda de porcos estrangeiros. Precisamos de um Tito ou de um Mao Tsé Tung. E um imenso paredão de fuzilamento. Mas, pouco importa. Não quero os culpados. Quero um bode expiatório. “O chip não está funcionando, senhor. Deve ser a frequência”. “É mesmo? Freqüencia?” BLAM! “Será que essa mesa de vidro é realmente resistente?” BLAM! BLAM! BLAM! “Agora a frequência está sintonizado? Consegue ouvir o sinal num perfeito lá 440hz agora? Não? Perdoe-me, deve ser o sangue do seu ouvido. Tentemos do outro.” BLAM! Depois sairia e pediria uma casquinha no balcão do Bobs, logo a frente, enquanto os seguranças vêm para arrebentarem MEU inocente crânio nos corredores ‘somente para funcionários’. “Na conta daquele senhor, por favor. E quero uma boa casquinha, ouviu?”. Apatia. Roubaria a arma de algum policial desatendo, enquanto espero algemado e mataria o delegado ocupado. Depois um pouco de roleta russa. Apatia. Trancafiar um homem num manicômio por ele NÃO ter sentimentos. Sem culpa, sem compaixão. Um perfeito cidadão de bem. Mas seria EU na camisa de força e choques químicos. Não usam mais eletricidade. Melhor usar medicamentos importados. Onde está Mao? A sociedade inteira está louca, doente e apática. Eles que precisam de uma boa dose de selvageria saudável. Mas, jogam a culpa sempre em algum pobre bode expiatório. E o trancafiam, para não terminar em alguma esquina pregando o apocalipse e talvez alguém o ouça. Não, eles precisam da estabilidade doentia que os estagna. E um bode expiatória por dia. No noticiário da tarde, quando voltarem do trabalho.

terça-feira, 17 de julho de 2012

Um pouco atrasada... Mas, lá vai.


A Grande espera

Sabe aqueles dias que você passa uma noite horrivelmente mal dormida no sofá e acorda as quatro da tarde, indo direto para a janela do quarto para contemplar metade da cidade esperando que seu trago matinal no paieiro vá salvar sua vida pelo menos mais um dia sem sair pelas ruas querendo destruir todos os carros passantes culpados de todos os seus infortúnios aleatórios? Daí você vê um carro tostado na frente do posto, com corpo de bombeiros, batalhão da polícia militar de trânsito e a merda toda, metade da frota e um quarto de toda a brigada que faz algo de realmente decente pela cidade e chega a conclusão de que de fato, seu dia será uma reprodução medonha da noite insone assistindo um filme típico de um típico policial americano, velho, alcólatra, divorciado, ranzinza e lacônico – mas que se preocupa com o mundo inteiro no fundo. E na cena mais típica, quando ele entrega o distintivo ao superior, resolvi que toda essa repetição típica de insônia televisiva chegou ao ápice e que ainda preciso ter pelo menos umas três horas de sono contínuo, virei para o lado e dormi.
E acordo com o carro no posto. Mesmo posto que vou quase religiosamente pegar um litrão de Itaipava, assistir qualquer coisa esportiva na TV do posto entre magnatas, vagabundos e trabalhadores de lá. Por mais desgraçado que esteja, um homem tem que ter suas prioridades!

Cê pode virar cinco noites seguidas sem trocar de roupa. Tua mulher pode te largar, seu melhor amigo ter fugido com ela para um cruzeiro, ter sido baleado pelas costas pelo cunhado enquanto tua sogra te distraia, ter tido uma perna devorada por um tubarão cabeça-chata a uma milha náutica Rio Amazonas acima ou ter sido sodomizado por um anão filipino travesti vestido de palhaço junto com um bixo preguiça depois de ter sido drogado por uma gostosa qualquer e ter acordado no dia seguinte numa banheira sem um rim. Você tem um dever moral e cívico consigo mesmo de se levantar da banheira, ir até o posto, pegar o litrão de Itaipava, tomar como longneck e ainda fazer piada com algum magnata bebedor de Heineken, dizendo “hei, o meu é maior que o seu”.

De qualquer forma, creio que minha situação seja um pouco menos grave. Não fui sodomizado por nenhum anão traveco palhaço, nunca vi um bicho preguiça ou tubarão vivo, não sei se tenho uma guria e nem se meu possível cunhado já encostou em alguma arma de fogo. De qualquer forma, uma noite mal dormida de incertezas mil, a falta de um emprego e a eterna espera que findará com Julho sobre alguma decisão de qualquer coisa junto com uma ligação de um velho amigo que quer ver Anderson Silva e Sonen fazendo o circo deles, fingindo que se odeiam fora do ringue, fingindo que são os melhores artistas marciais do mundo e a emissora fingindo que aquilo é a luta do século - enquanto Manny Pacquiao ainda está na ativa e Teófilo Stevenson faleceu há menos de um mês – para garantir a audiência – me levam ao dever cívico de passar uma noite no posto. Com um litrão de Itaipava. E não, não estou a cinco dias virado, sem banho e com a mesma roupa.

Só uma noite ruim, duas canecas de café pingado, um milhão de tragadas nos cigarros de palha, uma goiaba do tamanho do meu punho, uma tarde lendo Jack Keruak ao som de Tom Waits, uma medalha de Santo Antônio junto a uma chave no pescoço e a ansiosa espera. Ainda hoje Sonen ou Anderson Silva vão sair do octógono numa maca ou similar. Com sorte Spider vai arrancar um pedaço da orelha do Sonen com uma mordida. Mas, creio que não se fazem mais Tysons como antigamente...

A noite cai, o velho amigo desmarca o encontro para ver a luta com o cunhado. Espero que a sogra não o distraia... Ainda assim, um bom banho, mais um paieiro, um anel para cada dedo (ainda me faltam conseguir mais dois), bomber da Infraero bandeira da Jamaica no peito, camisa de treino do goleiro do Mengão – vinda direto das mãos de Júlio César para algum amigo meu que era gordo e se tornou obeso e me passou adiante – chapéu xadrez - que não é xadrez de fato - de minha falecida mãe, calças de lã do mesmo “xadrez” e bainha italiana esgarçada, tênis xadrez – de verdade - de skatista – que nunca fui - papo furado com frentistas, sintonização e recepção de notícias da rádio-pião sobre o carro queimado a tarde, trocas de cumprimentos de duplo sentido, seguranças ainda desconhecidos, brutamontes desconfiados com minha gentileza e todos os cumprimentos e “buenas” e “Noite!’s”, ser chamado de Senhor pelo Bigode – que não tem bigode e também se chama Cabeleira e é careca” – Itaipava na mão, churrasquinho mal passado do Gaúcho que não é gaúcho, mesa e cadeiras altas. E a espera continua. A “Grande luta”. Ninguém quer perder. Grande piada... Mas um homem deve manter suas prioridades!

Ok, chegada a hora. Três litrões, nenhum churrasquinho e nada das lutas antes de duas da manhã. Assisti uma luta de boxe. O gringo de calção preto ganhou todos os rounds. Venceu por K.O.. Se tivesse apostado teria ganho. Antes de entrarem no ringue. Já sabia o resultado. Não apostei. Não vi a “Grande luta”. Não houve vítimas no incêndio do carro.

Ok, replay da Globo, Galvão falando merda como sempre... Primeira luta que vejo. Um korea contra um brazuca. Vitória para o brazuca. Feia e rápida. Vergonha para os dois. “arte”... Céus, Mas Oyama deve estar revirando no túmulo. Ele e Vovô Gracie.

Começa a “Grande Luta”. O “brasileiro” SPIDER deixou a família em LA... Entrou com camisa do Corinthians, mas foi criado em Curitiba. O ufanismo chega ao ápice pela narrativa da Globo, com breve erro de oito horas para declarar que a luta era "ao vivo". Sinto que se não gritar “Heil Silva!” com o braço esticado, posso ser preso pela ABIN a qualquer minuto. Menos de dois minutos de luta e não aguento mais. Luta de chão. Feia. Se quiser ver luta de chão, assisto campeonato de jiujitsu. Se quiser ver sangue, vou fazer trabalho voluntário em hospital. O Sonen dominou o primeiro round. Para bem ou para mal, ele sabia o que fazia.

Segundo round. Um escorregão bisonho. Sonen vai ao chão. Silva acerta uma joelhada duvidosa e dá dois socos. Dois. Para quem disse que ía desfigurar o oponente, esperava pelo menos uns trinta e a tropa de choque do exército egípcio tendo de apartar p/ o juiz conseguir dar a vitória. Mas, dois socos, Silva se levanta, já se fazendo de campeão. Não deveria esperar a avaliação técnica? Sonen pareceu bem inteiro. Acho que aguentaria pelo menos o fim do round. UFC é uma farsa. Nenhuma orelha arrancada. Vitória por K.O.

Enquanto isso, um boxeador americano ganhou sua 35 luta por K.O. de 36 lutas... Extremamente técnico, luta bonita. E duvido que alguém aqui saiba sequer o nome dele... Eu não sei.

Enfim, nada demais, para bem ou para mal. Somente a piada com um magnata bebedor de Heineken, na fila para o banheiro. “A minha é maior que a sua!”. Óbvio que me referia a longneck...

Amanhã há de ser outro dia.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Faleceu nessa segunda feira um exemplo de boxeador, técnico, respeitava oponenetes, não tirava proveitos de ferimentos de outros lutadores e se recusou a lutar por dinheiro.

A matéria abaixo fala mais que qualquer texto que eu possa escrever agora.

Descanse em paz, manolo!

http://operamundi.uol.com.br/conteudo/noticias/22392/morre+o+cubano+teofilo+stevenson&#8206+lenda+do+boxe+mundial.shtml

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Nem papai e nem mamãe.



De José Eduardo A.Felix  com revisão De Torresmo.

A
ugusto chega às pressas depois do estágio, passa pela sala às pressas, ouve um barulho da pia ligada na cozinha e logo imagina que é a mãe preparando o almoço. Para não parecer “muito mal criado”, resolve anunciar a sua chegada com um sonoro:
- Oi mãe, cheguei! Vou tomar banho e desço logo para almoçar com você!
- Filho passa aqui na cozinha antes, temos visita!
Então, Augusto logo pensa que finalmente a mãe voltou a aceitar visitas em casa, algo que não ocorria desde o divorcio dos pais. Octavio, pai de augusto, tinha terminado o casamento de 25 anos pouco depois do filho começar a faculdade e ir morar em uma republica para estudantes em Jardim da Penha. Quando o rapaz entrou na cozinha, não esperava que a amiga da mãe fosse uma velha conhecida (era Natali, uma estudante de direito com quem ele tinha namorado durante quase um semestre, tinham rompido há algum tempo), era a última pessoa que esperava ver tomando café com a mãe.
- Mãe, o  que é que ela esta fazendo aqui?
- Filho eu estava vindo do supermercado e encontrei a Natali no meio do caminho, ela estava passeando de bicicleta e parou para me ajudar com as compras.
- Dona Édina, não foi nada afinal, a senhora sempre foi uma ótima sogra!
- Pois é, ela foi , assim como você foi minha namorada e agora você deveria ir e dizer um sonoro “Fui”, isso antes de bater a porta na saída.
Para o leitor que não esta entendendo muito bem, é necessário explicar melhor os fatos do presente voltando alguns meses, quando os pais de Augusto ainda eram casados e ele ainda era um calouro de direito. Durante toda a infância, ele e Camila (sua irmã mais velha) eram a razão da vida de Octavio e Édina (um casal de classe media, ele era advogado e ela era dona de casa). Era conhecida como um modelo de família ideal pelos vizinhos e amigos, digna de um comercial de margarina, mas as aparências enganam, um nem sentia mais tesão pelo outro e o relacionamento conjugal, que há tempos não era o mesmo, começou a cair quando a Camila terminou a faculdade de enfermagem e foi trabalhar em outra cidade, indo morar em um apartamento quilômetros distantes  dali. Não demorou muito o caçula foi morar fora depois de começar o curso de direito. Aliás, foi  nesta faculdade que Augusto conheceu Natali, ambos tinham passado ao mesmo tempo no vestibular, conversavam muito e começaram a ficar no meio do segundo semestre a algum tempo depois começaram a namorar. Apesar de terem praticamente a mesma idade, Natali praticamente adotou o garoto:
Ela o levou para conhecer várias pessoas e festas, ajudava-o nos estudos como uma professora, quando iam ao shopping ela ficava encarregada de contrabandear levar lanches para os dois terem uma comida mais saudável, sendo ela responsável pela diminuição do consumo de carne do rapaz durante a semana. Quando finalmente chega a hora de apresentar a namorada para aos pais, nada não poderia ter sido melhor:
- Pai, mãe, essa é a Natali, e Natali, esses são Octavio e Édina, meus pais.
- Seja bem vinda minha filha, nossa como você é linda.
- Obrigada, a senhora também é.
Depois de muitos cumprimentos, jantaram e a mãe mostrou à nora as fotos do filho enquanto isso o pai o chama para a varanda e onde tem uma conversa:
- Então pai, gostou da Nati, ela não era exatamente como eu te falei?
- Augusto, ela é sim muito simpática, bonita e te digo mais ela lembra muito a sua mãe quando ela era jovem, a semelhança chega ser assombrosa, você realmente ama mesmo esta garota?
- Que pergunta pai, claro que amo! Ela é demais, não entendo o porquê da sua pergunta.
- Então me deixe ser mais claro: você notou que eu e a sua mãe não nos damos tão bem como antes e tudo tem piorado desde que você e a sua irmã saíram de casa, digo isso porque você já tem idade para saber destas coisas. Não me leva a mau, mas sua mãe é uma ótima mulher, para cuidar dos filhos, mas parece que não ser mais a melhor esposa para mim, consegue entender?
- Eu não estou entendendo, o que o senhor está querendo me dizer? Aonde você quer chegar?
- Quero-te dizer que é melhor que não tenha um relacionamento mais sério com essa garota, ou acabara tendo uma ótima mãe para seus filhos, mas não um boa companheira na cama para outras coisas. Para o seu bem, espero que isso seja apenas uma aventura amorosa.
- Mas pai, eu acho que o senhor deve estar enganado, mesmo que a Natali lembre a mamãe, o que te garante que ela não será uma boa esposa?
- Filho, você ainda é novo e não tem certeza do que quer realmente para toda a sua vida, eu tenho total convicção do que estou falando. E te digo mais, você  lembra há mim quando tinha a sua idade: um sonhador, apaixonado e talvez por isso que casei com a sua mãe tão cedo quando mal tinha acabado a graduação. Mas deixemos isso de lado por enquanto, afinal, eu gostaria de saber sobre o estagio que estou reservando para você, lá no escritório.
Enquanto isso, no quarto de Édina, onde sogra e nora estão vendo as fotos do álbum de família no computador:
- Nossa o Augusto sempre foi tão lindo desde pequeno, nunca imaginei que ele fosse loiro quando criança.
- Isso porque você não conheceu a irmã dele, até hoje ela tem essa cor de cabelo, ela só não veio hoje por estar trabalhando.
- Me falaram que ela é enfermeira, trabalha aonde?
-Acabou de ser contratada para trabalhar num hospital particular, e está agora fazendo uma pós-graduação, vocês vão se dar muito bem quando se conhecerem. Mas me conta como foi que você conseguiu fazer o meu filho comer menos carne e mais comida saudável?
- No inicio foi difícil, mas com incentivo libidinal com o incentivo adequado, fica mais fácil!
-Sabe que eu o convencia a comer mais salada prometendo em troca mais sobremesa e funcionava muito bem, mas tive que parar com isso ou ele poderia ficar com problema de peso. E por isso gostaria que você cuida-se bem do meu bebê, ele ainda é muito relaxado com a alimentação: gosta de comer besteira na rua, gosta  de ir ao Macdonalds...
- No que depender de mim ele vai ter uma alimentação tão saudável que vai parecer que ele namora uma nutricionista.
E no dia seguinte, depois da aula o Augusto encontra um amigo dos tempos de vestibular, era Jorge (que agora estava fazendo o curso de filosofia), os dois foram para um bar onde depois de alguns drinques ele desabafou:
- Olha, é muito bom te ver cara, eu tava precisando de alguém para conversar.
- Tudo bem, mas qual é o problema? Dinheiro eu sei que não é, então ou é saúde ou é mulher?
Então ele conta com detalhes a conversa que teve com o pai, mas foi de uma maneira tão minuciosa  que faria inveja a qualquer estagiário de pesquisa cientifica. Então o amigo opinou:
- Olha, eu uma vez fiquei com uma garota da psicologia, uma pessoa até legal, a única coisa que entendi quando ela falava de  psicanálise era o lance do Édipo. Se não me engano o lance que seu pai falou é o seguinte: “Você tende a procurar uma mulher que é parecida ou igual a sua mãe, seu pai não quer você fique com alguém que é igual a sua mãe. Logo, seria como você casa-se com a sua mãe” entendeu?
Neste momento o rapaz, depois de ouvir a explicação a la psicanálise de botequim  bem leiga do amigo, ele fica em silencio por tortuosos dez segundos e  replica com um ar de humor e descrença:
- Ah!, para de brincadeira, Jorge!
-Não, não to brincando não, é serio, quando mais você negar, mais evidente fica!
-Ah!,porra nenhuma de jeito nenhum, eu não posso acreditar nisso, afinal a minha namorada não lembra nada a minha mãe!
- Pensa bem, seu pai não tirou isso do nada...
- Tá supondo que eu acredite nisso, não anularia tal teoria?
- Não, eu te digo que o primeiro passo para se chegar à solução é admitir o problema, e ai? Vai admitir?
-Quer saber de uma coisa, vamos voltar a beber e falar de futebol, você como um terapeuta é um bom bebedor...
(...)
Naquela noite Augusto não conseguiu dormir tranquilamente, não deixava de pensar no que Jorge tinha falado sobre o complexo de Édipo, chegando ao ponto de ter terríveis pesadelos envolvendo..., bem, deixemos isso a cargo da imaginação do leitor. No tempo que ficava acordado pensava : “será que isso é verdade ou só estou levando muito a serio
Na manhã seguinte, o estudante chegou a minutos antes de começar a aula (isso depois de beber um café expresso bem reforçado na cantina)  alguns que estavam presentes olharam preocupados para o colega exausto, logo ele, tão  tranquilo e que nunca chegava atrasado... qual foi a catástrofe que possibilitou tal acontecimento?
Durante a aula vários pensamentos lhe ocorriam:
- Puta merda, não to conseguindo prestar atenção nesta aula, mas eu mal me aguento acordado! Não sei o porquê da minha conversa com o Jorge estar me assombrando tanto, será que a Nati é mesmo parecida com a minha mãe ou estou apenas impressionado com uma teoria mal explicada?  Tá certo que o Jorge é estudante de filosofia e não fez nenhum curso de psicanálise, mas se ele sacar pelo menos a base da teoria? , não, não posso deixar esta ideia me dominar, vou ficar numa boa, tenho que ver pelo lado bom:  mesmo se minha namorada lembrar mesmo a minha mãe... , pera ai, se eu for semelhante ao meu pai é sinal de que no futuro eu me casarei e eu e a minha esposa seremos um casal perfeito, assim como meus pais são (um casal feliz com vinte e cinco anos de matrimonio, felizes até o final da vida), não tem como nada dar errado!
E olhando para Natali na mesa ao lado ele acena com um sorriso bem satisfeito, pensando em um futuro ter uma vida feliz ao lado da mulher que ama, assim como seu pai. Um futuro perfeito e com um apartamento onde passaria os últimos dias da vida sem nunca divorciar-se.
Em uma bela tarde ele resolve visitar os pais, ele é recebido pela mãe:
- Guto, como você está?!
-Ei mãe, como estão as coisas, resolvi dar uma passadinha aqui...
- Mas justo com essa camisa xadrez? Eu já disse que isso parece uma toalha de piquenique, alias cadê aquele doce de pessoa da Natali?
- Pô mãe!,não gosto quando a senhora implica com as minhas roupas, isso ta na moda. A Nati teve que fazer um trabalho na casa de uma amiga, mas acabou de me ligar...
Segundos depois a campainha toca, era a Nati, que cumprimentou a sogra e o namorado e logo fez o seguinte comentário:
-  Pô amor, achei que você tinha jogado fora essa camisa.
-Não gostou?
-Tá brincando, isso parece uma toalha de piquenique!
Então Augusto começou a pensar, se talvez não fosse uma simples coincidência? 
- O seu Octavio não esta em casa?
- Não, ele esta viajando, vai haver uma audiência no interior do estado, vamos fazer um lanche, quero saber as novidades, o Octavio comprou queijo e presunto antes de sair.
Durante o lanche da tarde o rapaz sentia-se fiscalizado, tanto pela mãe quanto pela namorada, ele mal podia comer sem ser censurado, parecia mais um curso de etiqueta à mesa. Mas ele também era paparicado pelas duas, sempre perguntavam se ele queria mais leite, se o sanduíche estava bom..., ele foi tratado como um verdadeiro príncipe, com direito até a limparem a boca dele com guardanapo.
Na noite seguinte Augusto conta a Jorge as semelhanças entre a mãe e a namorada, alem de relatar a preocupação que isso lhe causava. O amigo colocou a mão no queixo, respirou fundo e tentou acalma-lo:
- Cara, eu acho  que você levou muito a serio o que eu falei, eu estava bêbado, alias, nós dois estávamos. Por outro lado você deve pensar bem no que vai fazer, essa sua garota parece ser ideal para você...
-Eu gosto dela, mas está ficando estranho, você ficaria espantado como é namorar alguém que lembra a sua mãe, só de pensar é bizarro!
- Eu não devia ter comentado sobre uma teoria que não domino, agora olha para você: Está delirando, não dorme...
- A culpa é sua! Se não tivesse me aberto os olhos, se eu não tivesse ouvido, ainda estaria feliz curtindo a minha ignorância!
- Calma me deixa tentar te absolver desta culpa: A dona Édina é sua mãe, certo?!
-Sim, mas o que você quer dizer com o óbvio?
-Calma você tá nervoso, vou explicar melhor, ou pelo menos tentar. Eu só queria te dizer a seguinte coisa: Você teve como primeiro modelo de mulher ideal a sua mãe, o que de certa forma levaria você a escolher uma mulher com as características da sua mãe. Entendeu?
- Então eu acho que entendi!
- Até que enfim, eu já estava ficando preocupado, estava achando que os artigos da Wikipédia que eu li não estavam ajudando. Mas diga se tudo esta ficando mais tranquilo agora.
- Tá ficando, quer dizer que eu busco uma mulher com as características semelhantes da minha mãe, por ela ser meu primeiro modelo de mulher ideal, não é isso?
- É por ai, na verdade eu devo te dizer que você tem uma atração por sua mãe, lembra que você me contou que costumava dormir na cama dos seus pais quando tinha pesadelos e pedir para dona Édina te abraçar, isso você deveria ter uns cinco anos de idade. Então em um belo dia seu pai te barrou na porta do quarto de casal e te deu um esporro te chamou a atenção e te disse as celebres palavras...
- Como eu poderia esquecer, lembro até hoje:
“A mãe é sua, mas a mulher é minha. E ai?!, vai encarar?”
- Espera aí você acabou de me dizer que esse negócio de complexo de Édipo significa que gostei da minha mãe, mas meu pai meio que me “cortou as asas”?
- Na verdade acho que aí estamos falando mais é de castração.
- O que, meu pai quer me castrar? Meu próprio pai quer me capar?
-Não cara, deixa isso pra lá, o que quero dizer é que como não poderia ter acesso à mãe por ser a mulher de seu pai, você buscou ter ele como um modelo de homem ideal e...
- Meu pai como um modelo de homem ideal? Você esta me estranhando, não quero nenhum homem para mim!, Ideal ou não.
- Para de pensar besteira que vou agora te livrar de toda a preocupação. Não me interrompa.
-  Tá então fala logo caralho criatura!
- Mais uma vez calma, você esta nervoso, agora entenda. Quando falei modelo de homem ideal, eu quis dizer que: é o tipo de homem ideal que você gostaria de se tornar, entendeu?
- Ata, agora entendi, mas então isso explicaria o porquê da minha escolha pela faculdade de direito..., mas continue explicando.
- Então você resolve seguir o exemplo do seu pai, e sendo tão bom quanto ele, você poderia conseguir uma mulher tão maravilhosa quanto a dele, fui claro?
- Acho que, entendi tudo faz sentido agora, e sei o que devo fazer!
- O que você vai fazer?
- Antes de tudo ficar feliz por meus pais estarem casados, pois assim não corre risco de eu tentar competir novamente pelo amor de minha mãe como na infância!
- Como é que é?
- Sim, e para fugir de vez desta teoria eu devo tomar uma medida o mais rápido possível. Jorge, muito obrigado eu já vou indo, da próxima vez eu é que pago a rodada, fui!
Então Gustavo parte com um olhar próprio de quem vai fazer uma grande besteira, deixando o amigo pensando: “Será que ele realmente entendeu o que eu quis dizer?”
Mais tarde ele vai até o apartamento da namorada que o esperava usando uma blusa laranja com o desenho do deus hindu Ganesha[1]. Ele pergunta se ela esta sozinha e ela responde  dizendo que as outras garotas que dividem o aluguel voltaram para os lares no interior do estado, visto que passou o período de provas finais.
- E ai Guto, veio me fazer uma vizita ou veio me chamar para sair?
- Na verdade vim para agente conversar sobre um assunto delicado, posso entrar?
- Claro, mas qual é o assunto ?
- É difícil de explicar, eu fico confuso...
Neste momento a garota percebe a fragilidade do rapaz e o aconchega junto ao peito, igualzinho a mãe dele fazia quando era pequeno.
-Então vem cá, fica calmo e me fala: o que tá te deixando tão confuso, alguém te fez alguma coisa?
- Não Nati!  Para!,  Deixa eu falar , é justamente sobre isto que eu queria falar!
- Não estou entendendo, dá para você me explicar?
-Acho que não devemos mais..., acho que tá ficando complicado para mim ficar contigo...
- Para mim não, é para eu!
- Tá vendo isso, você tá parecendo minha mãe!
Então ele tenta buscar justificativas nas teorias explicadas pelo amigo da filosofia, mas ele acaba de se enrolar e os dois acabam caindo nos clássicos jargões: você não me dá espaço suficiente, não gosto da maneira que você se veste, etc...
Por fim, ele sai correndo do local entra no ônibus e vai para casa. No caminho ele reflete sobre tudo que aconteceu e conclui que foi melhor assim, seria melhor não se relacionar com pessoas semelhantes a qualquer parente, principalmente de primeiro grau. Resolve encontrar os pais em casa para falar do final do namoro, mas para a sua surpresa o seu telefone toca e é o número do celular do pai, chamando-o em casa para uma reunião de emergência. O que ele não poderia adivinhar é que os pais estavam para anunciar o fim do casamento. Eles justificaram a decisão dizendo  que o casamento era mantido  pelos filhos, mas como todos já tinham saído de casa, não viam mais razão para viverem juntos, pois o amor um pelo outro havia acabado faz tempo e já não eram mais um casal, mas  apenas pai e mãe.
- Filho, nós já conversamos com a sua irmã antes por ela já estar sabendo de tudo há muito tempo, e esperamos que você compreenda. Aliás, gostaríamos que você começasse logo o estágio no escritório do seu pai, achamos que isso vai te ajudar a amadurecer e seria bom ter mais responsabilidades, afinal: “Você a partir de agora será o homem da casa”.
Ao ouvir estas ultimas palavras: “ a partir de agora você será o homem da casa”!
Ele começou a imaginar como seria a sua vida daqui para frente, sem o pai para ser o esposo da mãe, agora é como se Laio estivesse morto e deixou o caminho para o filho se encontrar com a mãe e assumir o trono do palácio. Mas ele se considerava diferente de Édipo, pois neste caso ele teria total consciência do que estaria fazendo, portanto nada poderia interferir no plano de frustrar a teoria Freudiana (pelo menos assim ele pensava). Mas sem namorada, e com o semestre acabando, não lhe restava muita coisa a não ser apoiar a mãe neste momento e estagiar o máximo possível, conseguir tocar a vida na certeza de não ser tapeado pelo destino, afinal de contas, ele ainda contava com a ajuda do amigo Jorge. Então quando acabou de ouvir que ele teria que deixar a republica estudantil e começar a estagiar, ele simplesmente respondeu com um discreto “tá bom, tudo bem”, mas foi um tudo bem no estilo “puta que pariu, vocês são brincadeira, eu faço de tudo para levar a minha vida numa boa: tento tirar as melhores notas, venho visitar você sempre que posso, até trago a minha namorada para todo mundo conhecer, não reclamo de nada e é assim que vocês me agradecem ? fudendo acabando com o meu esquema? Custava continuarem casados até eu me casar?”.
Depois disto o tempo passou, como se as horas virassem minutos e os minutos, segundos. Augusto, agora estagiário de direito mal para em casa, às vezes tem que viajar com o pai e com o sócio do escritório, tal de Príapo. Já não tinha mais notícias de Natali e se preocupava com a mãe, pois ela não recebia mais visitas em casa, não saia e achavam até que estava com depressão. E em uma destas vezes que voltou de viagem ele passou primeiro no escritório onde deixou as petições e foi correndo direto para casa para almoçar e descansar. Justamente nesta ocasião ele se surpreende vendo a antiga namorada conversando com a mãe. Depois de avaliar a situação e ver que o destino ou qualquer outra entidade estaria tramando um plano de uma tragédia grega. Augusto pensa: “o Édipo ta tentando me pegar, mas eu não vou deixar, não importa o que custe eu vou fugir!”.
Augusto tenta manter a calma, mas sem deixar de lado a indignação com a ex-namorada, e por causa deste ato de grosseria  leva um esporro da mãe  leva uma bronca de sua genitora:
- Não admito que você trate esta menina deste jeito, só porque vocês terminaram isso não te dá o direito de tratá-la com tanta grosseria, além do mais ela é minha convidada, e alias não é a única!
- Mas mãe, não é certo você convidar a ex do filho para vir na sua casa, onde estão os bons e velhos costumes?
- A única coisa velha aqui é a sua maneira de tratar as mulheres, por acaso te criei para ser um troglodita ou um bárbaro qualquer?
- Édina, não precisa me defender, ele deve ter tido uma viagem difícil...
- Como assim “Édina” o que houve com o “dona Édina” desde quando vocês estão tão íntimas assim?
- Desde que você ficou estagiando e não parando em casa, até agora não sei o que você faz que não para em casa e me deixa sozinha em casa, por acaso tem vergonha de ficar em casa com sua mãe?
- Não, já conversei sobre isto, eu gosto de sair com os amigos e fazer uns serviços extras para o sócio do meu pai, ele tem um clube e me escolheu para cuidar da documentação.
“Sim, ele cuidava da documentação, e aproveitava para interagir” com as funcionarias do estabelecimento, salvo exceções. Este clube era nada mais nada menos do que um lugar de muito divertimento para artistas, atletas bem sucedidos e pessoas da alta sociedade. Um lugar proibido para menores de dezoito anos, com pequenas exceções.
Depois dos ânimos se acalmarem, logo chegaram a um acordo, não demorou muito a campainha (que tinha um som um tanto diferente do que Augusto se lembrava) toca, esta foi a oportunidade de atender a porta e sair daquela atmosfera carregada. Para sua surpresa quem está na entrada da casa é seu amigo da filosofia.
- Jorge, bom te ver cara , eu tava precisando de alguém para me ajudar, sabe a minha ex namorada ? , ela tá aí, então você poderia me dar uma força?
- Olha Guto, acho que como sempre você está sendo muito impulsivo e não procura avaliar a situação com cuidado.
- Como assim? Você não veio fazer uma vizita ao seu brother?
- Cara, eu vim aqui como convidado da sua mãe, ela me chamou para almoçar.
- Desde quando você frequenta a minha casa sem ser convidado por mim?
- Olha a sua mãe ligou pra mim porque estava preocupada com você. Por causa da sua dedicação exagerada ao estágio e a sua disposição às viagens do escritório. Guto você não para em casa nem para descansar, parece que esta fugindo de alguma coisa, aliás parece que você anda fugindo de tudo. Então vim aqui umas vezes para conversar com ela.
- Eu, Fugindo? Você deve estar filosofando demais, eu não fujo de nada, eu só estou amadurecendo, quero ser uma pessoa independente como meu pai e coisa e tal.
- É mesmo? Então porque você aceitou voltar para casa e deixar a república estudantil logo que seus pais se divorciaram e te ofereceram um estágio? Por acaso aceitar os destinos que os outros escolhem para você não é a mesma coisa de ser passivo e dependente? Porque você nunca aceitou estagiar antes?
-Eu acho que você andou fumando alguma coisa a caminho daqui, eu não faço a mínima ideia do que você está falando!
Édina vai ver o porquê da demora do filho e quando vê o amigo do filho abre um sorriso, dá um abraço caloroso e um beijo na face dele como se fosse o filho prodigo.
- Jorginho que bom você vir, gostei do som da nova campainha que você instalou,depois do almoço você poderia consertar a estante da biblioteca? Você é o anjo que pedi a Deus!
- Espera ai! Como assim consertar a estante da biblioteca, não era eu que ia fazer isto na minha folga?
- Você estagiando e fazendo serviços por fora, concertando alguma coisa? Se eu fosse esperar por você a calha da varanda estaria ainda entupida e cheia de larvas do mosquito da dengue e quem você acha que pintou a varanda?
- Quer dizer que o Jorge anda fazendo serviços aqui e não me falou nada?
- Meu caro eu tentei avisar que eu ia à sua casa, mas sempre você não atendia as minhas ligações, não é por causa daquele assunto da psicanálise, não é?
- Não fale deste assunto na minha casa, principalmente na frente da minha mãe!
- Relaxa Guto, eu já sei de tudo, não existem segredos entre mim e o Jorginho. Mas não posso acreditar que você, um estudante de direito não teve a curiosidade de ler outra coisa que não seja o Vade-mécum[i] e a legislação brasileira.
- E ela não é a única com quem compartilho o que sei, também tem a Nati!
- Não me diga que vocês também se conhecem, eu nunca te apresentei a ela?
- Não, mas a Édina apresentou-me semana passada quando limpei o seu computador e nos damos muito bem, aliás você deveria atualizar o antivírus e evitar certos sites, isso evitaria grande partes de seus problemas.
- Mas você tá pegando ela? Ou o que?
- “Pegar”?! Francamente, achei que você fosse mais cavalheiro. Como que você foi terminar com uma pessoa tão adorável?
-Bem chega de conversa vamos que a Nati já acabou de por a mesa. Jorge não se esqueça de...
- Lavar as mãos, pode deixar não precisa pedir duas vezes!
-Guto você vem depois, não é? Afinal você ia tomar banho ainda.
E todos se prepararam para comer, o estagiário de direito recebe uma ligação do pai pedindo para ele descansar bastante, pois haveria um audiência da guarda de uma criança de 12 anos no dia seguinte. Aproveitando o momento, Guto pergunta ao pai:
“O senhor se orgulha de mim?”
Então o pai responde com pressa e rispidamente:
“Mas é claro que sim, afinal, você é o melhor estagiário que temos, nunca tínhamos alguém que aceitasse viajar e fazer hora extra até nos feriados, nem mesmo eu quando tinha a sua idade era tão entregue ao trabalho. Mas eu não era mais entregue porque estava namorando a sua mãe, agora vou desligar, pois tenho que ir almoçar. Até mais!”
Então depois de tomar banho, Augusto estava descendo as escadas e viu aquela cena:
A mãe, a ex-namorada e o amigo almoçando, fazendo o lembrar de momentos nostálgicos de quando a família se reunia todo domingo para almoçar depois da igreja. Mas agora ele não conseguiu ver um lugar para ele à mesa, nem mesmo a namorada ele tinha, a mãe não fez o prato dele como era de costume, ele sentia falta até mesmo das tarefas de casa realizadas no final de semana, como limpar o gramado, concertar as coisas da casa...
Tudo que era dele, tudo do qual ele havia fugido por medo de comprovar uma teoria mal compreendida por ele agora era de Jorge, seu único amigo. Seu pai o respeitava como um funcionário mas será que o respeitava como filho?
Mas a pergunta mais importante seria:
“será que havia lugar para ele fora do trabalho?”