quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Projetando – por SAADE

29 de Fevereiro, c. 16:30hs


Passeio pelo centro é sempre divertido. Você sai da Universidade Federal, vai p/ a Secretaria municipal, depois uma repartição pública da mesma no Centrão e depois para onde realmente funciona a repartição, no mercado da rodoviária. Tudo embaixo dum Sol de 40 raus, tomando café com Dreher a cada bar – pra dar um ânimo – e, quando finalmente chega, acha uma área desolada, sem água encanada funcionando e resolve tudo em 10 minutos.


Ok, infernal. Mas a parte boa sempre vêm depois. Cê para no primeiro buteco, o menos, mais tosco e mais barato. Local a R$ 2,50. Um bêbado falando da vida. Momento de relaxar.

Centro da cidade é lindo. Meio de tarde de quarta feira. O bêbado fala de seus problemas familiares. O filho é casado, dá o rabo prum amigo e come a própria esposa. Tudo na frente do pai bebâdo, que fingia estar dormindo. A maior queixa é que o filho não conta que dá o rabo. E que não o chama pras putaiadas.

Botou o cara que comia o filho dele pra comer à relho. A esposa do filho pede p/ ele mandar o pai embora. O pai pede p/ ir embora. O pai espera que o filho conte alguma coisa. Ele não conta. O pai arrebenta a mão contra uma grade e vai trabalhar. Taxista. Cheirou demais p/ aguentar a noite, tanto quanto o filho. Um se diverte, o outro trabalha.

Pelo menos é isso que ele me conta. Diz que aceitaria se o filho contasse. Eu tomo minha cerveja e declamo alguns ditados. Eu o ouço. Ele finge que faz o mesmo. Não lembra do meu nome. Eu lembro do dele. Eu pago a cerveja, ele os cigarros. Nada mais justo.

Chega uma guria. Magra, pé quebrado. Fala algumas coisas. Se galanteia de ser de briga. Lamenta não poder passar por certas quebradas. Não pergunto o motivo. Ela acha que eu não sei. Eu finjo não saber. Ela conta.

Matou um “ex-P2”. Acredito. Ou finjo. O bêbado ri. Me pergunta se existe “ex-policial”. Repito o que aprendi na Marinha: “Tem três coisas que não existem “ex”: Ex-corno, ex-viado e ex-militar. Ela fica séria. Preocupada talvez. Ele fica sério. Ressentido, talvez. Eu fico sério. Devia ter guardado o ditado. Primeira gafe do dia.

Saio de lá tonto. Não sei se pelos cigarros, pelas poucas cervejas, pelas longas caminhadas pelo Sol quente ou se pela noite virada e a gripe forte.

Pego um ônibus, proseio com o cobrador. Desço, proseio com os frentistas do posto ao lado da minha casa. Tomo mais um latão de cerveja barata.

Quatro da tarde, Sol lascando. Não comi nada. Chego em casa. Hora de trabalhar.

E ainda dizem que artista mendicante é vagabundo...