sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Ramadan Kareen!

Hoje é um dia especial para os islâmicos de todo o mundo. Sim, HOJE, não amanhã. No calendário ocidental, cai no dia 10 de Setembro. No calendário árabe, hoje é Eid Mubarak. Último dia do Ramadan. Onde se jejua o mês todo, se medita e ora um pouco mais. É um mês de reflexão e caridade. No Eid Mubarak é proibido jejuar. Todos vão a mesquita, faz-se uma festa e caridade comunitária. Não que a caridade seja feita só nesse mês. Mas nesse mês ela é refletida, relembrada sua necessidade e portanto, naturalmente, mais praticada. Creio que o 11 de Setembro passaria quase despercebido para a maior parte dos islâmicos, para dizer a verdade.

Se não fosse graças à protestantes americanos, queimando o Qu'ran em praça pública e afirmando "Islam is of the Devil" (palavras do pastor Terry Jones)...

Ok, vamos por partes. Esse ano, resolvi, em dívida espiritual com um camarada islâmico, jejuar o Ramadan. Só pude fazê-lo durante duas semanas, metade dele. Mas, pratiquei a caridade durante o mês todo, e alimentei famintos também. Sunnah cumprido, creio eu.

O Islam me parece a mais tolerante das três religiões abraânicas, e, até mesmo mais do que as vertentes mais místicas do judaísmo, a que melhor oferece, em muitas de suas trocentas vertentes, um diálogo sincero e não impositivo com outras religiões (diferente por exemplo de certas vertentes do catolicismo romano, que aceita a 'Santeria', fazendo vista grossa e impondo o cristianismo junto, ou certos grupos evangélicos e judeus que 'aceitam outras religiões' mas sabem que 'no final, só eles irão para o paraíso, por escolha divina'.). Eles aceitam que qualquer um que siga um Deus só, tenha ciência de suas ações e seja julgado por esse Deus de forma aceitável (resumindo bastante as coisas) vai para o Paraíso. Isso inclui, nas palavras do Qu'ran, todos os povos do Livro, os muçulmanos e os sabeus. O Livro no caso pode ser a Torá judaica ou os Evangelhos. Muçulmanos são todos os seguidores de Muhamad. Sabeus, pelo que eu entendi eram os caras que se aceitaram isso aí em cima, que adoravam outros deuses antes. Islam significa "adorar à Deus". Mohamad veio para unificar os povos com essa mensagem.

Porém, para o tal pastor americano, "'Adorar a Deus' é do Diabo"... Quando eu vi isso, eu ri. Quando me toquei que era realmente algo sério, ri mais. Não que eu não ache absurdo e que deva ser feito algo para tentar evitar o ódio e a intolerância por conta dum incidente que, segundo virou fato, fora executado por uma seita fundamentalista terrorista (Al Qaeda), duma dissidência minoritária do islamismo (xiitas); ou, em outra versão (segundo alguns dizem, como por exemplo no documentário "Zeitgeist") que foi pura armação do governo americano, para fazer guerras que não fariam diferença alguma territorialmente falando, mas movimentariam um mercado estagnado que desde a crise de 1929 e a WWII vive usando guerras periódicas para escoar produtos da inflada industria bélica, gerar empregos desnecessários, mesmo que com uma fraude, como já foi praticamente adimitido como o caso de Pearl Harbor (vide Zeitgeist de novo...).

Mas, eu só posso rir. Primeiro porque não estou nos EUA. Não conheço esse tal pastor. Mas, se estivesse lá, e pudesse fazer algo, já tenho a idéia perfeita do que seria...

Eles querem queimar Qu'ran's? Terão de COMPRAR Qu'ran! E nada mais americano do que a formação de cartéis comerciais monopolizando o mercado. Quem vende Qu'ran senão árabes ou islamitas? Com uma rede de comunicação entre todos os comerciantes muçulmanos, poderiamos apoiar essa tradição, e, a partir do mês de Julho, vendermos o Qu'ran com 10 vezes o preço original! Óbvio, alguns ficariam raivosos com isso, mas, e o lance da oferta e da procura? Quer dizer que a economia não deve ser regida por isso? Isso seria comunismo marxista! Claro, a partir de Julho, todos os Qu'ran's vendidos seriam 10 vezes mais caros. De brinde, dariamos uma caixa de fósforos, e na compra de 2 Qu'ran's, uma camiseta com os dizeres "Queimem um Qu'ran! E em breve ultrapassamos a Bíblia em bestsellers!"

E para finalizar, pegaríamos todo o dinheiro das vendas, e (voltando ao principio do post) faríamos uma PUTA festividade de caridade no Eid Mubarak. Afinal, não é que "...na verdade Deus permitiu o comércio e proibiu a usúra*" (Qu'ran 2:275) e "Deus aniquila o juro* e faz frutificar a caridade. Deus não ama o pecador e o ingrato" (Qu'ran 2:276)?

Melhor que isso, só se os queimadores de Qu'ran's, ao menos uma vez, parassem para LER alguma versão traduzida (pois que, entre outros motivos, pela complexidade do árabe clássico, não há como haver tradução verdadeira do Qu'ran) do Qu'ran antes de queimá-lo. Depois, se ainda assim quiserem queimá-lo, que queimem. Porque daqui, infelizmente, eu só posso rir...

*As palavras marcadas, do original, podem ser traduzidas como 'juro ou usúra'. E por usúra, creio que podemos também compreender 'lucro', no sentido de 'excedente além do seu trabalho'. Óbvio que, na discução sobre catolicismo x protestantismo, trabalho era igual a mão de obra. Porém, creio que se os católicos e protestantes vivessem no meio do deserto, onde percorrer rotas sem trilhas por desertos infindáveis de areia, se guiando pelas estrelas, embaixo dum sol de 50 graus de dia, e alguns graus negativos a noite, acho que também considerariam o comércio um trabalho...