terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Nenhuma boa ação sai impune

Isso é somente um breve desabafo. Espero não estar ofendendo, de forma alguma, nenhum dos envolvidos.

A noite corria bem até o bastardo aparecer. Um encontrão, ofensas e um visível desejo por sangue. Nos negamos a dar o nosso. Tentamos seguir. Não era possível. Não aquela hora. Não naquele estado. Não com aquele bastardo que exalava cocaína a cada contorcer de face e bravatas. Tinha o dobro do meu tamanho. Tinha uma arma, mas não estava armado. Meu irmão ao meu lado caíra. Os outros demoravam para voltar. Encontraram uma discussão correndo. Empurrei o bastardo. Falei p/ ele puxar a arma na hora ou sair. Falei que só queríamos ir embora. Mordi e assoprei. Demonstrar medo seria mostrar minha óbvia indisposição para uma briga. Qualquer palavra em falso seria uma fagulha naquele barril de pólvora. Os outros chegam. Falo com a dona do bar. Pago a conta com dinheiro que não é meu. Matamos a cerveja-desculpa p/ meu compa ter parado e sentado no bar. Não conseguia andar sozinho. Demonstrar isso seria mostrar que eu estava sozinho num quebra. Consciente ou não. Levanto-o e continuamos nosso caminho. Fiz meu melhor, esperava o apoio de meus irmãos. Todos os dedos se voltam contra mim. Ofensas são proferidas. Cada um segue seu caminho. Eu não tenho caminho a  seguir, então vagueio.
As horas rastejam embaixo do Sol escaldante. Passo na casa dum compa. Fumo um baseado que não é meu. Tomo uma dosagem perigosamente exagerada de anti-siolíticos. Cochilo por três horas. Acordo ainda sem acreditar. Pedir mais que um leito seria demais. Mesmo na merda, ainda me recebeu bem. Ele também precisaria descansar. Bom camarada.
Segui. O Sol está no topo do Céu. A última coisa que comi foi há mais de 24 horas. Encontro por sorte outro compa. Fumo dois cigarros e pego um troco emprestado. Estava de serviço, não iria atrapalhá-lo. Minha companhia em si já não era da melhor.
Segui à casa de outro. Estava com família. Um bom prato de comida, a hospitalidade habitual. Todos vêem meu estado. Ninguém me faz pergunta. Ninguém me trata mal. Repetem que estava em casa a cada fim de conversa. Ajudo a varrer meu lar temporário. Fumo meio maço de cigarro e tomo três latões de cerveja ruim com meu camarada. Voltamos. A depressão bate pesado. Relembro a noite anterior. Cada palavra, cada ato.
Nos juntamos à um terceiro. Não tinha mais dignidade nem p/ me negar a pedir p/ bebermos todo o dinheiro dele. Ainda assim era um compa. Não faz perguntas. Sabe que a noite foi tensa e o dia pesado. Bebemos. Bem, mas não o suficiente. Nem toda a bebida do mundo seria. Peço cigarros a transeuntes que me dão tragos de mal grado e fazem questão de demonstrar isso. Minha cabeça está baixa demais até para negar.
Os dois seguem seu caminho. Ainda incomodo a família do primeiro mendigando mais um pouco de um lar emprestado. Me recebem bem. Sem perguntas. Sem sermões.
Me despeço quando vejo todos vão dormir. Sigo sozinho a meu acampamento. Fumo mais um cigarro mendigado no caminho. Assimilo que o que ocorreu na noite anterior foi real. Estou terrivelmente sóbrio o suficiente para refletir bem.
Me amaldiçoo por ter me esquecido o que aprendi a duras penas. Nenhuma boa ação sai impune nesse mundo. E tudo é descartável. Você em especial.

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