Recordo-me perfeitamente quando vi o Blue Men Group num DVD duma antiga loja de discos, na esquina a caminho de casa. Tocavam clássicos do rock no tubulum e outras percursões. A performance e a arte visual aliadas aquela música percursiva. Recordo-me quando ouvi o Halber Mensh do Einstürzende Neubauten pela primeira vez, um CD gravado de presente p/ mim, por um amigo DJ. Os vocais do coral da música título, a voz "esquisita" -e por vezes rasgada - de Blixa Bargeld cantando frenéticamente, como num surto verborrágico. Recordo-me de recentemente ter assistido o DVD homonimo ao CD, gravado por um japa em Tókyo, um DVD inteiro de um videoclip (ou vários vdeoclips) do álbum todo. Estética sensacionalmente grotesca e neo-primitiva. Recordo-me de ouvir Mr Bungle com seus teclados e sax tenores misturados a voz de Mike Patton, variando de um ska levinho até uma completa anti-música, passando por solos de Bebop no caminho.

Me recordo do meu primeiro CD do Iron, de assistir no youtube GG Allin cantando "Bite it (you scum)" em mil lugares, agredindo mil pessoas diferentes e apanhando de mil formas diferentes. Me recordo do CD do Liberators que ouvi até cansar e me apaixonar de vez por ska. De como me apaixonei pela japinha saxofonista contralto de Ska Cubano ao ver o vídeo no youtube de "Big Bamboo". Dos infindáveis shows punks e de todas as camaradagens e beberragens e tretas e catarses. Da gaita de foles que virou bebida que virou uma gaita de foles que virou depressão, que virou duas poesias.

Me recordo também do ano passado... Ano de perdas, ano-marco. Não me lembro de nenhum projeto de vida que não tenha caído, de uma forma ou de outra. Fiz boas amizades, firmei a camaradagem com raízes firmes o suficiente para, nem a pior discussão, conseguir arrancá-las. Ainda assim, não vejo mais futuro plausível. Só uma última esperança na música.

Sem o amor à música, não vale a pena viver.