quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Por Welton EsquizoPoeta - O espólio politico do corpo

‎"Se a apropriação econômica separa a força e o produto do trabalho, digamos que a coerção disciplinar estabelece no corpo o elo coercitivo entre uma aptidão aumentada e uma dominação acentuada" (Foucault, p. 134, Vigiar e Punir)

Acho que isso faz dois ou tres meses. Voltava de uma foda relativamente agradável. Estava num ônibus em horário de pico. Em sua grande maioria, trabalhadores. Era uma quarta. Todos estavam exautos. Dormiam, ora com suas cabeças nas janelas trepidantes, ora em pé, escorados uns aos outros em solidariedade comovente. Todos em silêncio, em sua rotina melancólica. Corpos talhados, modelados, obedientes, CANSADOS... Corpos espoliados de sua força, amansados em sua potência politica, sujeição estrita de suas forças, pois a disciplina "dissocia o poder do corpo" (Foucault, Vigiar e Punir). O que eu vi foi apenas o efeito de algo que acontece todos os dias. O capital que explora ao máximo os corpos, suga toda a sua vivacidade, se apropria de sua força, obtém lucros absurdos, domestica pelo cansaço, pela rotina necessária de um trabalho que mais denegri do que dignifica. Enfim foi uma apropriação de uma parcela ínfima de um momento. Poderia ser diferente...

Um comentário:

  1. Acho que dizer que "o capital explora" é meio equivocado. Na verdade o capital não explora nada, e sim, induz. Se uma pessoa destitui de sua força é porque quer ser recompensada. O capital funciona como um galanteador irresistível. Com ele o pobre trabalhador exaurido pode adquirir privilégios, poder!!
    E isso é mais do que o suficiente para fazer uma pessoa acordar cedo e ir labutar no matadouro (sendo ela mesma a carne) até o último dia de sua vida.


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